Tudo na vida é feito de rituais.
Os rituais são muito simples e quase imperceptíveis.
Eles nos passam de uma etapa para outra;
se uma etapa não for concretizada, as seguintes não terão efeito.
Os rituais são usados no cotidiano de qualquer um.
São, na realidade, nossos hábitos.
Trazem muito prazer, concentração e liberdade.
Reequilibram o psíquico, o material e o espiritual.
Não são prisões, regras e princípios.
O amor também é feito de rituais:
o de um ser humano pelo outro.
O beijo de agradecimento após um elogio,
o obrigado após um favor ou uma cordialidade.
Tudo isso numa sequência gradativa:
desde a hora de marcar o encontro
até a última despedida, após o amor.
Na realidade é uma gradação instável,
como o da cobra que luta para morder sua própria cauda
e, depois que consegue, solta-a para recomeçar tudo de novo.
A prática dos rituais é erótica.
Não o erótico ligado somente ao prazer sexual,
mas também ligado à força pela vida.
Nela os planos do afeto não são uniformes.
Quem não faz um ritual de luto, individual,
fica deprimido, preso, tendo algo vivo que já morreu.
A falta de noção da morte causa a melancolia permanente.
O choro é o ritual de galardão ao que desce à mansão de Hades, que
morre.
A morte é o fim da vida,
perda de uma vida, nossa,
e sem a noção de perda não há liberdade.
Então, sinto que estou preso à minha vida.
(Primeiros
Momentos,
2001)
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