Pular para o conteúdo principal

SABEMOS QUEM SOMOS

A maldição, infelizmente, é uma benção
na boca de quem ama a ignorância,
porque não tem palavra, tem arrogância,
para dizer o que tem em mente, em vão.

O homem, que não tem nada a perder,
é a mais perigosa, deste mundo, criação.
Em qualquer sociedade, dez desses precisos não são
para a transformação, para o mundo padecer.

A prisão de nossa mente é predominante,
mas procuramos não ter medo da cultura dominante.
O que ela fará conosco? O quê?
Que já não tenha feito. O quê?

Ensina que os negros viviam em cavernas,
que se balançavam em cima das árvores.
Que os índios eram selvagens aborígines,
enquanto os brancos eram, dos cantos da Terra, patriarcas.

O índio não era selvagem em sua própria concepção.
Os negros nunca aquilo fizeram.
Os negros uma raça de reis eram.
Enquanto os "brancos" rastejavam na Europa; quem são?

Quase tudo que você sabe hoje a dominante ensinou.
Adorar um Jesus loiro e de pele clara, aceitou.
Mas Jesus era judeu, pés de bronze tinha
e cabelos como a pele de um carneiro mantinha.

Se a dominante joga–nos o osso,
então devemos esquecer 500 anos de opressão?
Deixa–nos cantar, sorrir, dançar, sendo oneroso.
Depois deixa um marginal à sociedade
adentrar a Universidade por uma seleção.
Mas isto não anula o maior crime da história.

Ver com os olhos livres: a realidade.
Ler por trás das palavras: a iniquidade.
Conquistar dela o que não temos: equidade.
Para saber o significado real da palavra: integridade.

Nenhum de nós é Deus para dizer
quem é bom ou mau no seu viver,
impondo uma verdade a crer,
e punindo a quem seu mandamento não obedecer.


(Primeiros Momentos, 2001)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CACIQUE DE RAMOS, O DOCE REFÚGIO DA SAGRADA TAMARINEIRA

      No último domingo de julho, eu recebi um convite irrecusável. Até que enfim: eu pisaria o chão do Cacique de Ramos! Reduto de inúmeros famosos do mundo do samba, entre Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Almir Guineto, Jorge Aragão, Marquinhos Satã, Beto Sem Braço, Arlindo Cruz, Neoci, Sombrinha, Cleber Augusto, Jovelina Pérola Negra e Luiz Carlos da Vila. Ufa! São tantos e tantas mais. O ano era 2008, o último bissexto da década de 2000. Por mais estranho que parecesse, eu ainda não havia transitado pelo espaço da sagrada árvore tamarineira. Eu conhecia os pagodes da rua Bariri, mas não os da rua Uranos. Como poderia eu ainda não ter conhecido esse tradicional território do samba no Rio de Janeiro? Quando criança, passei muitas vezes de ônibus pela Uranos, em Olaria, e olhava para a entrada, mas isso não conta. A primeira passagem, penso, deve ter sido quando meus pais nos levaram, eu e meus irmãos, ao parque de diversões Shanghai, que fica aos pés da Igreja de Nos

A INVASÃO DOS ESKRULLMÍNIONS E A RESISTÊNCIA DOS ANTI-HERÓIS BRASILEIROS

No início do século XXI, após o encerramento das batalhas da Guerra Civil, os heróis da Marvel se mantiveram divididos em dois blocos: os que apoiavam a causa do Homem de Ferro e os que acreditavam nos ideais do Capitão América. Com o desfecho desses episódios, aparentemente o entendimento passou a reinar entre os dois grupos. Até o momento em que eles descobriram que há anos ocorria uma invasão secreta de alienígenas no Planeta Terra. Era a invasão dos eskrullmínions. E o foco da ocupação era um país da América do Sul, o Brasil. Eles se proliferavam de tal maneira que não dava mais para saber quem era quem, pois a raça desses usurpadores alienígenas tinha a capacidade de metamorfosear sua aparência em pessoas normais, as quais achávamos que conhecíamos. Ainda que tivessem similaridades no perfil das redes sociais - óculos escuro e cara de mau -, não conhecíamos mesmo! Eles estavam apenas escondidos nos armários! Mas como o dedo coçava, lançavam alguns comentários suspeitos nas rede

É NA ENCRUZA QUE NOS ENCONTRAMOS

Em 2018, eu preparava a mala para participar do 3º Festival Afro-Montuvio, em Calceta, pequena cidade que fica na província de Manabí, na costa do Equador. Em duas noites, conheceria a cultura dos montuvios, camponeses que habitam a zona costeira, imbricada por inúmeros rios. Na realização desse festival afro-equatoriano, havia um grupo de montuvios e afro-esmeraldeños reunindo artistas e intérpretes, para celebrarem as ascendências africanas e indígenas como resistência da tradição oral. De dia: conversas e compartilhamentos sobre as identidades e os seus entrelaçamentos. De noite: músicas, teatro, dança, improvisações e declamações de poesia. Fui convidado por minha amiga, promotora cultural e poeta Alexandra Cusme. Nós nos conhecemos em outro evento, em Piriápolis, no Uruguay, em 2015. E ela tinha me prometido um dia me convidar, e o convite surgiu em 2017. Este foi o ano em que ocorreu um terremoto que destruiu muitas casas, matando muita gente. Ruínas que pude ver no ano seguin